Sunday, April 8, 2007

Quando o ambiente é uma boa oportunidade de negócio…

Eu interesso-me bastante por este campo do saber, a Economia, sobre o qual versa a minha área de projecto; mais recentemente, sobre a influência de amigos e da comunicação social comecei a pesquisar e a interessar-me pelas questões ambientais, as quais começaram a inquietar-me. Por isso, resolvi aliar estas duas ambições e chamar a atenção das pessoas.
Será que a economia e o ambiente são dois conceitos antagónicos, ou seja, que um país ou uma empresa para conseguirem lucros, crescimento económico e terem viabilidade, não podem preocupar-se com as questões ecológicas? Na minha opinião, existem muitos preconceitos, os quais vou tentar desmistificar, para, em conjunto, encontrarmos a verdade, e por que não tornarmo-nos amigos do ambiente “ricos”!
Todos devem ter reparado que o Outono que passou mais parecia uma Primavera a caminho do Verão. Mesmo eu, em casa, notei a grande diferença. Se bem que a nossa opinião seja muitíssimo importante, é sempre bom vermos que é confirmada pelos registos oficiais – este Outono foi considerado, num relatório que li na conceituada revista Nature, o mais quente (2º acima da média) desde que Cristóvão Colombo resolveu atravessar o Atlântico. E isto foi no fim do longínquo século XV!
Este fenómeno evidenciou diferentes posturas – uns ficaram deliciados e outros desesperados. Façamos a revisão de algumas mudanças para ficarmos com uma ideia do que pode acontecer se isto se tornar uma regra em vez de uma excepção, o que pode acontecer se não revertermos a tendência para o aquecimento global.
Na Escandinávia, os donos das estâncias de esqui e patinagem no gelo choram por mais frio, já que gastam fortunas a fabricar o suficiente para conseguir atrair apenas os mais fanáticos. Mesmo ao lado, os incrédulos proprietários de campo de golfe vêem os greens mais apetecíveis do que nunca e continuam abertos e cheios de pessoal de taco na mão. Os vendedores de camisolas e casacões arrancam cabelos perante o cenário em que ninguém acha necessário renovar o guarda-roupa, já que uma camisolinha aqui e ali é suficiente. Em contraste, os construtores dos países do Norte estão deliciados com o tempo, já que têm mantido um nível de obras nunca antes visto (geralmente impossível de conseguir devido ao gelo e à neve abundantes).
Em Moscovo, a relva está verde e as margaridas e violetas do jardim do Kremlin têm mostrado a cara ao sol que insiste em aparecer com regularidade, permitindo que os turistas visitem a cidade sem congelarem a ponta do nariz. Enquanto isso, os ursos do jardim zoológico e da Sibéria andam mal dispostos e confusos porque já deveriam estar a hibernar e estão a ver o período de sono a reduzir-se dramaticamente. “Os mais optimistas” já prevêem as extensas estepes da Sibéria como o celeiro da Rússia (como o Alentejo foi visto pelo Salazar).
Os plantadores de flores adoram este tempo quente que quase faz parecer inúteis as estufas que tanto jeito costumavam fazer nesta época. Mais desconfiados estão os restantes agricultores que já sabem que o tempo quente atrai uma floração precoce e o começo do crescimento dos frutos, mas que se pode perder completamente a produção se a seguir vier um tempo de frio, gelo e geada.
Nas grandes cidades, em que estes problemas de floração e geada passam bastante ao lado, durante a época natalícia, os retalhistas ficaram preocupados com a falta de “espírito natalício”. A tradição diz que temos de andar enregelados, molhados e agasalhados para conseguir sentir este espírito (ou seja, na vida dos lojistas, a vontade de comprar presentes). Realmente, as compras parece que se reduziram nos países onde a neve já deveria cobrir as ruas. Ou será que as pessoas entravam nos centros comerciais apenas para aquecer e, já que lá estavam, levavam aquele candeeiro de pé para a tia Miquelina? Em países como o nosso, o problema não é falta de neve, mas provavelmente a falta de dinheiro…mas isso é outra história.
Esta descrição toda serve para se reflectir sobre a mudança abrupta do clima e as mutações irão causar efeitos irremediáveis e nefastos para a vida na Terra. O frio faz falta e esta repentina e rápida alteração das características das várias estações ainda vai dar que falar.
Ademais, o grande problema é que meses de anormal pouco frio, são interrompidos por súbitos e inesperados dias de muito, muito frio, prejudicando a agricultura, desorientando os seres vivos, e agudizando ainda mais a situação das actividades económicas.
Por outro lado, os gases poluentes e as mudanças bruscas de temperatura deterioram a saúde do ser humano, aumentando ainda mais as despesas do Estado e dos cidadãos com a saúde.
Quem não gosta de ver uma serra cheia de árvores, o chilrear dos pássaros? É tão triste quando se ouvem notícias, como a oficialização da extinção do golfinho-rosado (bajif), a progressiva extinção do pulmão do mundo, a Amazónia, entre milhares de exemplos. Não estaremos a brincar com o nosso o futuro?!
Felizmente, actualmente, começa a haver uma tendência gradual para uma consciência ambiental. Com efeito, poucos poderiam prever, no início do ano de 2006, que um documentário sobre as alterações climáticas se pudesse transformar num verdadeiro campeão de bilheteiras. “Uma verdade inconveniente”, a versão cinematográfica da palestra que o antigo vice-presidente norte-americano Al Gore tem vindo a fazer um pouco por todo o mundo, a Portugal inclusive, e que apresenta dados científicos sobre o escalar da crise climática, rapidamente conquistou a terceira posição entre os documentários mais vistos de sempre, popularidade que traduz o aumento das preocupações referentes ao aquecimento global.
Se, por um lado, alguns consideraram os avisos de Gore algo exagerados, por outro, os novos dados científicos divulgados durante 2006 vieram dar que pensar. Durante o ano que passou, a comunidade científica anunciou que o degelo no Árctico está a ocorrer mais rapidamente do que o previsto, pelo que inúmeros cientistas começam a especular acerca dos “pontos de viragem” que, no sistema climático, são responsáveis por pequenas variações de temperatura e que têm um impacto no clima global bem maior que o esperado. O pior é que o degelo do Árctico origina o aumento do nível do mar, o que, em última instância, poderá levar à submersão de cidades inteiras pela água.
Na opinião de James Hansen, director da Nasa, “não é demasiado tarde para salvar o Árctico, todavia, é necessário começar a reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) ainda esta década”.
Mas onde Al Gore e a comunidade científica terminam, surge um “modesto” economista britânico para dar seguimento ao tema, Sir Nicholas Stern, chefe do serviço económico do governo britânico e antigo economista chefe do Banco Mundial, foi encarregue pelo governo do Reino Unido, de elaborar um relatório sobre os aspectos económicos das alterações climáticas, com o intuito de avaliar os potenciais riscos e as vantagens que pudessem advir deste fenómeno. As suas conclusões foram surpreendentes (mas não para mim). Segundo este, a factura da redução das emissões equivaleria a 1% do PIB mundial, sendo que o preço a pagar por nada fazer estaria situado entre 5% e 20%!
No entanto, e se bem que os vários aspectos desta análise tenham sido discutidos e postos em causa por outros economistas, a veracidade do seu argumento – o facto de uma tomada de acção a propósito das alterações climáticas não implicar, obrigatoriamente, custos económicos insuportáveis –, foi amplamente aceite. Na opinião de David Miliband, ministro britânico do ambiente, “com o argumento científico consolidado, o relatório Stern pôs em causa o argumento económico contra a adopção de medidas”. Apela-se, então, a uma eventual acção colectiva, uma vez que nenhum país quer ser o primeiro a reduzir as suas emissões, com o receio de enfrentar uma desvantagem competitiva caso os restantes governos não adoptem a mesma postura.

Empresas a lucrar….

Portanto, está pois explicado o título da minha dissertação sobre o apelo a uma consciência ambiental, relacionando o ambiente com as potencialidades económicas. Com efeito, algumas empresas viram grandes vantagens competitivas em seguir prontamente as medidas amigas do ambiente. Em 2005, Jeff Immelt, presidente executivo da General Electric (GE), decidiu que seria uma boa política vender produtos amigos do ambiente. Em Maio de 2006, a GE anunciou que as receitas provenientes de produtos e serviços no quadro da sua iniciativa “Ecomagination” tinham crescido de 6,2 mil milhões de dólares, em 2004, para 10,1mil milhões de dólares em 2005. Além do mais, e ainda no mesmo âmbito, o valor dos pedidos de encomendas futuras – grande parte será satisfeita num prazo de 3 a 5 anos –, aumentou para 17 mil milhões de dólares.
Outro exemplo poderá ser dado: em 2006, Lee Scott, presidente executivo da Wal-Mart, traçou objectivos ambientalistas para a empresa prometendo reduzir as suas emissões de CO2, à semelhança do que fez James Murdock, da British Sky Broadcasting (BSkyB). Mais, no início de 2007, a Marks &Spencer, o maior retalhista britânico, anunciou que em 2012 seria “neutro em carbono”, prevendo gastar cerca de 397 milhões de dólares para aperfeiçoar o seu desempenho ambiental. Contudo, o mundo dos negócios pode esperar mais iniciativas deste género para 2007.
Num âmbito diferente, a agricultura biológica começa a ser uma actividade florescente, proporcionando negócios muito rentáveis, em detrimento de uma agricultura que usa produtos químicos que prejudica a saúde dos consumidores e dos seres vivos, a qualidade da água e do ar.

Uma nova regulamentação…

Por outro lado, durante este ano e o próximo, as empresas também poderão ver as suas emissões de CO2 alvo de uma regulamentação mais rigorosa. Na União Europeia, as empresas esperam que os resultados das deliberações sobre as emissões de (CO2) entrem em vigor em 2008, durante a segunda fase de aplicação do mecanismo de comércio de emissões (2008-2012). A UE também prometeu que as restrições referentes às emissões de gases com efeito de estufa serão bastante mais severas do que as estabelecidas durante a primeira fase (2005-2007). Com ela, exige-se uma nova atitude ambiental, uma nova ponderação dos interesses divergentes: os interesses gerais de protecção do ambiente e os interesses particulares dos agentes económicos e das administrações públicas.
Também as empresas que operam nos Estados Unidos estão de olhos postos no governo norte-americano. Com os Democratas a liderar as duas Casas do Congresso, os pedidos de regulamentação das emissões de gases com efeito de estufa começam a crescer. Alguns políticos Democratas e Republicanos de destaque comprometeram-se mesmo a avançar com a criação de uma nova legislação que limite as emissões. Além disso, George W. Bush, num seu discurso em 2007, disse que uma política a implementar nos EUA era de redução da dependência energética de petróleo e a sua substituição como fonte de energia. É de salutar esta medida, todavia, é pena ser por causa de motivos político-económicos e não ambientais…
Durante os dias 24 a 27 de Janeiro de 2007, o debate sobre o futuro do Planeta passou por Davos e Porto Alegre, duas realizações da Sociedade Civil, que traduzem o crescente esbatimento da importância dos governos nacionais na busca de soluções para o futuro da Humanidade. Para quem possa pensar que estes “fora” são meros locais onde as pessoas importantes se reúnem, sem que isso tenha impacto na condução do mundo, basta observar como o Primeiro Ministro de um País que bem conhecemos, Portugal, escolheu, para o seu debate mensal (Janeiro de 2007) no Parlamento, precisamente o mesmo tema escolhido pelo World Economic Forum, que decorreu em Davos: as alterações climáticas. Com efeito, os 3000 participantes no Fórum Económico Mundial são reconhecidos, pela sua notoriedade, como líderes económicos e políticos dos seus países e do Mundo. Tendo como pano de fundo a doutrina do máximo bem-estar mundial que se consegue através da liberdade das trocas internacionais, que, por seu turno, levará o desenvolvimento económico a todas as regiões do mundo, o debate centra-se, ano após ano, na promoção da globalização da economia e no perscrutar das consequências que daí advenham. Na verdade, o bem-estar e o nível de vida da população de um país não são, exclusivamente, analisados por critérios económico-sociais, mas também ambientais. Por exemplo, uma pessoa pode ser muito rica, mas se não pode sair à rua sem uma máscara para respirar por causa do ar poluído, não se pode dizer que tenha um excelente bem-estar e qualidade de vida.
O facto de este ano o tema central de discussão ser a questão das mudanças climáticas demonstra que em Davos se está a ser mais “humano” ao compreender que, no estádio tecnológico actual, há um claro conflito de interesses entre a globalização e vida na Terra. Para esta sensibilidade mais humana muito contribuiu, a partir de 2000, o crescimento da oposição organizada às teses, ultraliberais que Davos parecia defender, teses essas onde as componentes sociais e ambientais não eram, pelo menos explicitamente, tomadas em consideração (a criação do Fórum Social de Porto Alegre teve esse propósito de oposição). Acredito que da interacção entre ambos os “fora” resultará um mundo sustentável. E Davos vai no bom caminho.
O Fórum de Davos, que é vulgarmente identificado como ultraliberal, penetra, assim, naquilo que é o desafio central posto à Humanidade: a preservação da vida no Planeta. Se tivermos em linha de conta que em Davos se encontram os líderes que conduzem a globalização, é lícito esperar que, face ao tema escolhido, tais líderes transformem a ideologia do crescimento contínuo na ideologia, bem mais inteligente do crescimento possível e sustentável. Uma tal mudança terá que colocar o acento tónico na aceleração da inovação tecnológica que permita um crescimento sem esgotamento dos recursos naturais que suportam a vida e que aposte na utilização de energias renováveis (sol, ar, água).
Em Portugal, país riquíssimo em fontes de recursos renováveis (não poluentes), num ritmo muito lento está a implementar medidas que visam o aproveitamento de recursos naturais para produção de energia com o intuito de diminuir a dependência energética externa e equilibrar, um pouco, a balança comercial portuguesa (grande parte dos recursos energéticos são importados). Com efeito, deve-se apostar na construção de painéis fotovoltaicos, no uso da energia de biomassa, eólica, hidráulica, da força das marés, etc. Deve-se apostar na reciclagem e na investigação.
Infelizmente, um lado negro do ambiente como negócio está a emergir, ou seja, os países, nomeadamente, o nosso, como não conseguem cumprir os níveis estabelecidos de poluição que se comprometeram, compram direitos de poluir, gastando milhões e milhões de euros dos contribuintes! Isto é muito triste… Para além de depauperarem o meio ambiente, também o fazem com os bolsos de cada um! É verdade que isto também acontece devido aos elefantes brancos que impedem a reconversão das actividades económicas a práticas mais sensíveis ao ambiente.
Certa é a mudança de paradigma e com ele um novo conceito de risco para o operador económico.

O que podemos fazer?

Então será que cada um de nós, simples cidadãos não podemos fazer nada perante esta contínua putrefacção do nosso planeta? Claro está que podemos: o oceano é um conjunto de gotas, quero eu dizer, que se cada pessoa implementar no seu dia-a-dia medidas ecológicas, o conjunto de cada acção individual contribuirá para salvar o planeta da “morte”. Não podemos pensar que será daqui a muitos anos ou que o alarmismo é exagerado, pois, “mais vale prevenir do que remediar”, lá dizia o ditado popular.
Então que se pode fazer? A mensagem é simples e económica: “Reduzir, Reutilizar e Reciclar" (política dos três R’s).
A reciclagem é muito importante porque reduz o consumo de matérias-primas e energia durante a actividade produtiva, economizando recursos naturais e financeiros. A reciclagem do papel permite reduzir o abate de árvores e poupar outras matérias-primas importantes, como a água. A reciclagem de alumínio permite fabricar, entre outros objectos, radiadores, trotinetes, motores de viaturas, e sobretudo caixilharia. A reciclagem de vidro permite poupar recursos naturais (essencialmente areia), reduz a poluição atmosférica e a deposição em aterro.
Desta feita, o caro internauta percebe que é de máxima importância separar e colocar: jornais, revistas, embalagens de papel no ecoponto azul (papelão); embalagens de metal – latas de bebidas, enlatados –, tabuleiros de alumínio, garrafas, frascos, sacos de plástico no ecoponto amarelo (embalão); garrafas, frascos, boiões e garrafões de vidro no ecoponto verde (vidrão); as pilhas devem ir, obrigatoriamente, para o pilhão. Infelizmente muitas pessoas não separam por preguiça ou colocam objectos impróprios nos ecopontos ou por maldade ou por desconhecimento; por outro lado, muitas das embalagens supostamente recicláveis só o são no estrangeiro, e não em Portugal, visto que ainda os nossos governos não investiram suficientemente na reciclagem, apesar de saberem dos benefícios cabais desta prática! Preferem gastar o dinheiro com a compra de direitos para poluir do que em infra-estruturas e meios para reciclar! Todavia, não nos podemos desanimar e devemos dar o exemplo ao Estado, reciclando!
Para além da reciclagem o leitor também pode adoptar outras acções amigas do ambiente:
· Compra de equipamentos com baixo consumo energético;
· Ir para o local de trabalho de transportes públicos;
· Criação de hábitos pessoais que evitem desperdícios – abrir o frigorífico apenas as vezes necessárias, desligar da corrente os aparelhos como a televisão, aparelhagem, etc., uma vez que estes mesmo em repouso asseguram gastos mínimos quando não estão ligados à corrente, fechar a torneira quando não se está a utilizar a água, por exemplo, a escovar os dentes;
· Reutilizar a água, energia, materiais para vários fins.
· Usar lâmpadas económicas.

Na certeza de que “o que fazemos à Natureza, fazemos a nós próprios”, não podemos encarar o ambiente como uma moda! Trata-se de algo que diz respeito a todos, que tem relevância política própria capaz de interferir na vida dos cidadãos como a política da Educação, Justiça, Saúde…
Os Estados e os seus cidadãos têm assumir o seu papel na preservação do bem-estar ambiental do nosso Planeta! Portugal não pode ser excepção!

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